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Próximas safras propiciam retomada de usinas

Sao Paulo, 20 February (Argus) — As próximas safras de cana-de-açúcar poderão ser marcadas pela reativação de usinas em recuperação judicial, seguindo as perspectivas positivas que se desenham para o setor sucroalcooleiro.

O processo de recuperação, no entanto, pressupõe melhores modelos de gestão, capazes de atrair investidores em um momento em que recursos financeiros para o setor são majoritariamente direcionados para projetos greenfield de etanol de milho. 

Ao longo dos últimos cinco anos, o setor foi fortemente afetado por uma política de controle de preços da gasolina estabelecida durante o governo de Dilma Rousseff, além do baixo preço do açúcar no mercado internacional. A queda das receitas vindas do açúcar e do etanol levou muitas unidades a ficarem alavancadas financeiramente, e a perder acesso ao mercado de crédito. "A magnitude desta recuperação vai depender muito do mercado e de como estas usinas em dificuldades irão corrigir suas falhas. Empresas com gestão pouco profissionalizada dificilmente sairão da crise", disse à Argus o presidente da consultoria Rio Anhumas, Antonio Carlos Christiano. "Isso não quer dizer que empresas familiares não possam ser bem administradas."

Atualmente cerca de 93 usinas do país estão em processo de recuperação judicial, representando 22,5pc do setor, de acordo com levantamento da consultoria RPA. Somente no ano de 2019, 25 usinas entraram com pedidos de recuperação, sendo que dez unidades estão no Paraná, sete em São Paulo, três no Mato Grosso do Sul, três em Goiás, uma no Mato Grosso e uma em Minas Gerais, ainda segundo a RPA. A produção de etanol da região Centro-Sul na safra 2019-20 deverá terminar em 33,1 milhões de m³, volume recorde e 7,1pc acima da safra passada. E a expectativa de analistas é de retomada ainda mais intensa ao longo das próximas duas ou três safras.

Os preços do biocombustível também atingiram níveis históricos. Nesta quinta-feira, o índice diário da Argus registrou novo recorde em São Paulo, a R$2.602/m³ equivalente Ribeirão Preto PVU com impostos. 

O açúcar também apresentou forte valorização, com contratos futuros negociados na bolsa de Nova York atingindo 15,78 centavos de dólar por libra-peso na semana passada, o maior valor desde maio de 2017. 

Além da recuperação, outra possibilidade é que parte destas usinas paradas sejam adquiridas por grupos consolidados no setor sucroalcooleiro ou novos players, com mais acesso a crédito e menos problemas de caixa. O maior exemplo neste sentido foi a fusão entre Bunge e BP anunciada em meados do ano passado. A operação resultou na criação do segundo maior grupo sucroenergético do Brasil, com capacidade de moagem de 28 milhões de t de cana-de-açúcar. 

A reestruturação financeira do setor sucroalcooleiro competirá também com a recente leva de projetos greenfield de etanol de milho, que tem atraído a atenção dos investidores nos últimos dois anos. A União Nacional do Etanol de Milho (Unem) estima que a produção de etanol de milho alcançará 1,4 milhão de m³ na temporada 2019-20 e aumentará 86pc, para 2,6 milhões de m³, na safra 2020-21.

Três novas usinas de etanol de milho iniciarão as operações neste ano, adicionando mais de 1 milhão de m³ à capacidade produtiva anual. Outras sete usinas de etanol estão em construção, o que elevará a produção em 2021.

"Existe uma convergência de fatores que traz otimismo como aumento da produtividade, clima favorável e alta do preço da commodity. Mas a melhora não se dará sem desafios. A chegada de novas tecnologias e as tendências mundiais de protecionismo são pontos a serem observados", disse à Argus a sócia da área de reestruturação de dívidas e insolvência do escritório Felsberg Advogados, Fabiana Solano.

Por Carolina Guerra

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